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Câncer e depressão

O senso comum sabe que uma grande perda sentimental provoca doenças.
Sabedoria popular? Se assim for, explica o aumento impressionante de novos casos de câncer no mundo. A doença está progredindo em 5% a cada ano. Para ter a dimensão desse número, Guarulhos aumentou a sua população em cerca de 1,15% ao ano nos últimos 12 anos. Vários fatores estão inseridos nesse incremento assustador e o mais importante é o aumento da expectativa de vida do ser humano em todo o mundo, cujos maiores responsáveis são os produtos industrializados, que na intenção de prolongar a vida útil dos artigos, criam elementos de esterilização e eliminação de vírus e bactérias, nossos eternos inimigos, até para as doenças oncológicas. Na contramão, o modelo de modernidade de nossa vida arrasta uma imensidão de emoções prazerosas ou devastadoras. O homem assumiu definitivamente o papel belicoso do antepassado, de forma sutil e disfarçada em ações “politicamente corretas”, porque quem não se comportar assim se situa no fim da fila social. No entanto, há uma enorme repressão emocional policiada permanentemente por diversos Big Brothers sem câmeras, criadas por regras anti-instintivas.

Quando separamos por gênero, o feminino foi o mais agredido, porque assumiu posições anteriormente de exclusividade masculina em poucas décadas, sem ter tido a oportunidade de se adaptar adequadamente. Estudos mostram que as mulheres necessitam da organização familiar típica e atualmente elas estão se afastando desse modelo, assumindo lares sozinhas, produções independentes e outros comportamentos que as têm levado a estados de solidão absolutas com consequências à saúde muito graves. A prova disso é que cada vez mais elas estão ingerindo álcool e usando mais drogas, inexistentes há menos de 100 anos.

Quanto ao sexo masculino, o conflito com a nova ordem social tem produzido transtornos que se evidenciam nos dados do Ministério da Justiça publicados recentemente, mostrando um impressionante aumento da mortalidade por causas externas (acidentes e assassinatos) entre homens jovens motivados por desajustes e dificuldade de se sintonizar com o mundo atual que está exigindo-lhe obter velocidade incompatível com a sua estrutura cerebral original.

A organização social humana está se degradando a olhos vistos em todo o mundo. Os conflitos se avolumam em progressão geométrica e sob modelos sofisticados e surpreendentes. No conjunto é uma aberração, apesar da construção de novas leis que tentam bloquear esse avanço. Veja a necessária lei Maria da Penha que não conseguiu reduzir a agressão às mulheres ou a do Desarmamento que não reduziu assassinatos por arma de fogo.

A consequência individual se expressa no aumento de estados depressivos. Os diversos níveis de manifestação da ansiedade, desde transtornos obsessivos compulsivos simples ou obsessões por consumo de produtos da moda, até depressões que levam ao suicídio e podem passar por experiências mais agressivas, como o câncer.

Até recentemente a ciência não possuía elementos técnicos que pudessem associar estados ansiosos com a doença, com firmeza. Era só senso comum, isto é, aquilo que é passado por relatos orais por gerações e por vezes perde credibilidade tornando-se lenda urbana. Pensava-se até em suicídio biológico, como se o indivíduo ao não possuir forças para se matar, produzia a patologia para fazê-lo. Era pura especulação, porque não tínhamos elementos comprobatórios dessa situação. Com o advento dos estudos de neurofisiologia e neurobiologia identificamos que hormônios da afetividade e do amor como a Oxitocina (o mesmo que contrai o útero no parto) tem força nas relações afetivas interpessoais e sociais. O seu bloqueio pelo excesso de adrenalina, do estresse, provoca danos irrecuperáveis e que se avolumam ao longo dos anos. Outro elemento que tem sua produção aumentada foi identificado recentemente é um peptídio (CGRP), resultante de processamento das proteínas, que está associado ao hormônio que fixa o cálcio aos ossos, a Calcitonina. Esse peptídio em excesso se fixa em células de defesa do organismo bloqueando sua ação e expondo o indivíduo às infecções e ao desenvolvimento de certos tipos de câncer. De acordo com um cientista americano “Pode-se morrer de desgosto, na realidade, tal como na poesia”.

Dr. Guilherme Bezerra de Castro
Médico Cirurgião e Mastologista